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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PECADOR, EU NÃO TIA!

TEXTO ESCRITO PARA A REVISTA "ENSINADOR CRISTÃO" - ANO 13 - Nº 49 - CPAD

PECADOR? EU NÃO, TIA!

“Tia, como assim pecador? Eu não faço nada de errado!”

Você, evangelista de crianças, já ouviu essa frase? Presumo que sim. Embora alguns achem raro, talvez possamos encontrar alguma criança que realmente seja boazinha, educada e se julgue sem pecado.

E agora? O que fazer diante dessa afirmação? Como explicar para a criança que não é bem assim? Aliás, como explicar para alguns adultos que não é bem assim? Aqueles que acreditam que todas as criancinhas já estão salvas, ou então que só a partir de doze anos elas passam a cometer pecados?

A questão do pecado na vida da criança tem sido motivo de discussão e muitas dúvidas entre os cristãos, tornando-se um assunto delicado. Afinal, a criança é pecadora? Ela pode se perder?

Conhecer a Palavra de Deus, as características individuais de cada criança e entender o seu desenvolvimento, nos aspectos físico, emocional, intelectual e social são de suma importância para entendermos melhor sobre o assunto.

Nelson Piletti em seu livro “Psicologia Educacional”[1], diz que a criança é um ser em formação, com seus problemas, defeitos e qualidades e que precisa ser compreendida para que possa se desenvolver de maneira sadia.

Outro ponto importante é compreender também as etapas de desenvolvimento, em que cada criança apresenta uma característica, uma necessidade e uma maneira diferente de entender as coisas. Piaget acredita que o desenvolvimento da criança se estabelece em estágios, pelos quais novas conquistas e superações constroem o seu conhecimento sobre si mesmo, sobre o outro e sobre o mundo.

O meio em que vivem, a educação que recebem e os costumes e culturas tão diversificadas promovem desenvolvimentos variados em cada criança. Algumas se desenvolvem precocemente e outras nem tanto. Algumas adquirem com facilidade a fala, desenvolvem-se no âmbito psicomotor com mais rapidez que outras da mesma idade. Assim, cada criança tem um desenvolvimento único. Elas não seguem um padrão, são diferentes em todos os aspectos e, portanto, alcançam a compreensão, a razão e a maturidade em fases distintas umas das outras.

Antes de falarmos sobre o problema do pecado é de suma importância que tenhamos claro em nossa mente e coração uma ordem que recebemos do Senhor: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Essa ordenança inclui os pequeninos também! Eles necessitam ouvir as Boas Novas independente da idade que possuem.

Em Romanos 3.23 lemos: “Porque TODOS (grifo meu) pecaram e destituídos estão da Glória de Deus”. Quando a Bíblia diz “todos”, o que entendemos? Que toda a humanidade é pecadora, portanto, todas as crianças são pecadoras. Todos nós nascemos com a natureza pecaminosa e o Salmo 51.5 deixa isso claro: “Em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu minha mãe”.

A Bíblia ainda nos revela em Romanos 3.10 que “...não há um justo, nem um sequer” e que “até a criança se dá a conhecer pelas suas ações, se a sua conduta é pura e reta” (Pv. 20.11).

Então se todas as crianças são pecadoras e por causa do pecado estão separadas de Deus e incapacitadas de herdar a vida eterna, o que acontece com uma criança que morre durante o parto? Uma criança de apenas dois anos que morre em um acidente de carro junto com seus pais? Ou um adolescente vitimado por uma bala perdida?

Ficou difícil agora, não é mesmo? É doloroso imaginar alguém tão fofinho, tão indefeso, tão pequenino ou um jovenzinho indo para o inferno.

Todos nós, principalmente os pais, temos um aguçado extinto de proteção e não conseguimos nem imaginar algo terrível assim acontecendo com os nossos filhos.

Mas agora temos um grande problema. Se o nosso Deus Santo não tem comunhão com as trevas, se o pecado jamais entrará no céu, se Ele jamais faz diferença entre os seres humanos, como resolver esse dilema? Como o Deus Amoroso, porém extremamente Justo, resolveria essa questão?

Exatamente nesse ponto exponho meu pensamento sobre o assunto. Deus jamais condenaria alguém sem que essa pessoa tivesse condições de compreender o porquê de estar sendo condenada.

A criança durante o seu desenvolvimento intelectual passa por duas fases importantes: a da Inocência e a da Consciência.

Durante a fase da Inocência, ela não tem a mínima condição de entender o que está fazendo, é incapaz de discernir a mão direita da esquerda, não compreende a razão e não tem controle sobre seus atos. Nesse período, a criança possui completa ausência de responsabilidades.

Agora, em um determinado momento, o qual nenhum estudioso soube até agora precisar, essa criança passa da fase da Inocência para a outra fase, a da Consciência. A partir daí, ela é capaz de entender os seus atos e o resultado deles, é capaz de compreender o porquê de uma repreensão e sabe quando está quebrando uma regra anteriormente estabelecida pelos pais ou educadores.

Como se dá isso? Em seu desenvolvimento peculiar, ela vai adquirindo, ao longo da aprendizagem gradual e contínua, experiências que, segundo Piaget, possibilitará à criança compreender, por exemplo, conceitos como a “fé” e a “salvação”. Embora para ele, somente a partir dos onze ou doze anos a criança terá condições de entender o abstrato, acredito que mesmo antes dessa idade, na verdade, bem antes a criança possa compreender sobre as coisas espirituais.

O fato é que é impossível determinar o momento exato dessa transição. Aquele momento em que a criança começa, por escolha própria, a dar vazão ao pecado que há dentro de si. Como saber o que acontece na mente do ser humano ou como ela entende e interage com o mundo, a não ser pelas suas atitudes? E se considerarmos as atitudes de uma criança, observaremos que desde a mais tenra idade ela já apresenta comportamentos relacionados à sua natureza pecaminosa.

Pense comigo quem foi que ensinou aquele bebezinho lindinho de poucos meses a fazer mãnha? A fazer caretas quando contrariado? Ou a bater na colher com papinha todas as vezes que a mamãe tenta, em vão, alimentá-lo? Ou então aquele garotinho ou garotinha de poucos anos de idade a se jogar no chão do supermercado aos gritos por ter ouvido um “não”?

Sabem do que eu estou falando. É a disposição para o pecado, para fazer as coisas que desagradam a Deus, pois a desobediência aos pais é pecado. Estão entendendo? O pecado está ali no interior da criatura, esperando o momento certo para que conscientemente ofenda o Criador.

O que quero dizer é que se não podemos precisar o momento exato do início da consciência, se não é visível o que acontece no íntimo da criança, não devemos correr o risco de perder sua alma, deixando para ensiná-la sobre Cristo quando tiver mais idade.

Para Charles Spurgeon o ensino da Palavra de Deus às crianças ainda na tenra idade era tão importante que afirmou: “Dê-nos os primeiros sete anos de uma criança, com a graça de Deus, e poderemos desafiar o mundo, a carne e o diabo a estragar aquela alma imortal”.[2]

É absolutamente certo que se uma criança, estando na fase da Inocência, morrer, ou se Jesus voltar, com certeza ela estará nas mãos de Deus. O Deus Fiel e Justo cuidará de sua alma, não permitindo que pereça, sofrendo eternamente. Mas se a criança estiver na fase da Consciência, ela como qualquer outra pessoa dará conta dos seus pecados diante de Deus.

Está chocado? Muitos ficam. Mas esse tem sido um problema na evangelização dos pequeninos. Afinal, como muitos dizem: “...dos tais é o reino dos céus...” e com certeza jamais serão condenados por um Deus tão amoroso, ou ainda, “Filhos de crentes, que nascem em lares evangélicos, já estão salvos”. Não se esqueça: Filho de crente não é crentinho!

Esse pensamento errôneo tem tardado o ensino da Palavra de Deus às crianças, fazendo-as correr o risco de não alcançarem a salvação e a vida eterna. Muitos acreditam que somente quando forem mais velhas e experientes serão capazes de compreender a Mensagem da Salvação.

Essa inverdade tem sido disseminada impossibilitando que elas tenham um encontro verdadeiro com Cristo. Quanto tempo nós perdemos, quantas oportunidades de levá-las à verdadeira comunhão foram desperdiçadas com essa ideia.

Por esse motivo deixam de investir nesse ministério e o que vemos muitas vezes são crianças abandonadas tanto lá fora como dentro de nossas igrejas, com fome da Palavra de Deus, necessitadas de cuidado e atenção.

Quem foi que falou que os pequeninos, mesmo com pouca idade, não podem entender o amor de Deus? O amor transmitido na voz amável da mamãe durante um louvor de gratidão, na voz do papai em oração ao lado do berço, na leitura da historinha bíblica lida pelo irmãozinho no aconchego do seu colo?

Como menosprezar aqueles olhinhos atentos durante a Lição Bíblica na sala do Maternal ou os bracinhos levantados na sala do Jardim de Infância, diante de uma pergunta da professora, na Escola Dominical?

Agora é o momento ideal para falarmos de Jesus aos pequeninos. Não devemos esperar que tenham sete ou dez ou quem sabe doze anos para evangelizá-las. Não afrouxemos as mãos nesse arado, nem relaxemos no empenho, pois o ministério infantil é coisa séria!

Moody, acreditando na possibilidade de conversão de uma criança declarou: “Eu creio que as crianças com idade suficiente para vir à escola dominical podem também vir ao Calvário. Vamos abrir nossas mentes, e que Deus nos ajude a ganhar crianças para Cristo”

Famílias desestruturadas e incapacitadas para transmitir aos filhos padrões agradáveis a Deus acabam por expor essas crianças a uma realidade de abandono e desafeto. Por outro lado, obreiros despreparados e desprovidos de materiais adequados revelam também uma situação de abandono em que se encontram departamentos infantis em algumas igrejas.

No livro de Juízes, capítulo 2, vemos o perigo que há na falta de ensino e evangelização das crianças. Por falha no cumprimento das ordenanças do Senhor com respeito ao ensino da Sua Palavra, uma geração que não conhecia o Deus Libertador, que tirara o povo da escravidão do Egito, levantou-se e fez o que Deus abominava: entregou-se à idolatria. Todos aqueles homens e mulheres que presenciaram tantos milagres se calaram, esqueceram-se, não deram importância ao ensino e à proclamação do Deus Verdadeiro aos seus filhos, às suas crianças: “...e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco a obra que fizera a Israel”. Não deixemos que isso volte a acontecer.

Queridos professores, líderes, pastores e pais, não devemos poupar esforços para que Jesus seja conhecido e adorado pelos pequeninos. Afinal, deles é o reino dos céus, então não os impeçamos de adquirir o direito de entrar lá!


Texto escrito por: SUSANA DOS SANTOS BENEDITO CIRQUEIRA, pedagoga, Coordenadora Geral do Departamento Infantil “Crescendo com Cristo” e do Curso CEPEC (Curso de Ensino para Professores Evangelistas de Crianças) da Igreja Assembleia de Deus de Jundiaí - SP, para a Revista "Ensinador Cristão" - CPAD

[1] PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. Editora Ática. São Paulo.
[2] C. H. Spurgeon. Pescadores de Crianças. Shedd Publicações, 2004, p. 108.